sexta-feira, 20 de junho de 2008

Para ocultar dinheiro, Urbs usa cheques da prefeitura


A Urbs, empresa municipal de economia mista que gerencia o transporte e o trânsito da cidade, tem utilizado cheques da Prefeitura de Curitiba para efetuar pagamentos de suas despesas, como forma de ocultar a movimentação de seus recursos financeiros. A denúncia é do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização de Curitiba (SindiUrbano), entidade que representa os trabalhadores da empresa.

O SindiUrbano já denunciou o fato ao Ministério Público. Cópias de cheques assinados pelo diretor administrativo-financeiro da Urbs, Ricardo Smijtink, utilizados para o pagamento de rescisões trabalhistas, comprovam a acusação.

Nos cheques do banco Itaú, abaixo da assinatura do direito, aparecem o nome “Prefeitura de Curitiba” e o CNPJ da administração municipal.

“As contas correntes da Urbs não têm movimentação financeira. Numa ação movida pelo Ministério Público do Trabalho, quando a Justiça determinou o arresto de uma multa de R$ 100 mil, havia apenas R$ 5 mil na conta”, revela Valdir Mestriner, presidente do SindiUrbano.

Após a denúncia feita pelo Sindicato, a Urbs passou a fazer a maior parte dos pagamentos de rescisões em dinheiro vivo.

A Urbs teria em seu nome, entre outras dívidas, um débito milionário contraído após a construção da Rua 24 horas, inaugurada em 1991, durante a gestão de Jaime Lerner.

Desvio de recursos

Ex-secretário de Administração do governo Jaime Lerner, o diretor Ricardo Smijtink teria sido “afastado” do cargo de diretor da Urbs há algumas semanas, após a descoberta de um esquema de desvio de recursos no departamento jurídico da empresa.

No início de junho, o chefe do setor, o advogado Sidney Martins, foi demitido por justa causa. Uma série de depósitos judiciais do departamento jurídico foram desviados do caixa da Urbs. Ainda não se sabe o valor total do rombo aos cofres públicos. Havia depósitos de até R$ 150 mil.

O SindiUrbano contesta a versão de que Ricardo Smijtink estaria hoje afastado do cargo de diretor da Urbs. “Existem provas testemunhais de que ele está despachando à distância, na Prefeitura de Curitiba, inclusive assinando documentos”, aponta Valdir Mestriner. “Muitas decisões ainda são tomadas somente após seus subalternos terem autorização expressa dele.”

Ao sindicato, tanto a Urbs quanto o próprio diretor informaram que ele estaria “em férias”.

O atual presidente da Urbs é Paulo Schimidt —secretário de Educação do ex-prefeito Cassio Taniguchi (DEM, ex-PFL) durante seus oito anos como prefeito de Curitiba. Indicado pelo prefeito Beto Richa (PSDB), que fora vice no segundo mandato de Taniguchi, Schimidt ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso. Richa, também não.

Culpado ou incompetente

O sindicato vê com estranheza o fato de o diretor administrativo-financeiro da Urbs procurar se desvincular das ações praticadas pelo ex-procurador jurídico. “Ele [Smijtink] controla tudo na Urbs, inclusive os e-mail dos funcionários”, afirma Mestriner.

Em entrevista ao jornal “Gazeta do Povo”, o diretor disse que, antes de 2003, “muita coisa na Urbs não passava nem pelo financeiro nem pelo jurídico da empresa”.

Ao que o presidente do SindiUrbano responde: “Se antes de 2003 as coisas estavam erradas, havia uma oportunidade para o diretor tomar providências e apurar todas as irregularidades. Mas a única coisa que fez foi afastar funcionários e colocar em seus lugares pessoas sem concurso público”.

“Se o diretor de fato é ‘inocente’, no mínimo deveria ser demitido por incompetência, visto que há um grande desvio de dinheiro no nariz dele.”

Série de escândalos

Questionado há alguns dias pelo próprio SindiUrbano a respeito do desvio no setor jurídico, Ricardo Smijtink alegou que a “lábia” de Sidney Martins teria “enrolado” toda a diretoria da Urbs. O sindicato apurou que uma auditoria feita regularmente na empresa já havia apontado o fato de não haver documentos e nem tampouco depósitos referentes à devolução de recursos provenientes de ações judiciais.

Numa assembléia sindical realizada no último dia 21 de junho, os trabalhadores da Urbs aprovaram por unanimidade uma moção que pedia investigação e providências quanto a uma série de irregularidades constatadas na empresa nos últimos dez anos.

Entre as irregularidades listadas estão a apropriação indébita de recursos do EstaR, a venda de vales-transporte falsos, o escândalo das multas ‘anistiadas’, as demissões arbitrárias e injustas, a realização de concursos públicos ilegais.

“Temos certeza de que todas as mazelas que a Urbs vem enfrentando nos últimos anos são frutos da incompetência e da falta de princípios éticos e morais que perduram no âmbito da empresa gestão após gestão”, diz trecho do documento. “Chegou a hora da empresa ser passada a limpo, é preciso por um ponto final nas sucessivas demonstrações de falta de zelo com os recursos públicos e punir exemplarmente os responsáveis.” (site do PR, 13/08/07).

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